ESTÓRIAS



O EVORA transportou o VIII Exército

Em maio de 2008, coube ao Barco EVORA o privilégio de acolher a bordo a festa organizada por um numeroso grupo de adeptos do clube sadino, membros da claque vitoriana “VIII Exército”. Adeptos do clube setubalense que rejubilaram com a conquista da primeira Taça da Liga, por parte do seu Vitória Futebol Clube.
Foi no moderno Estádio do Algarve que o Vitória de Setúbal defrontou o Sporting Clube de Portugal, num jogo muito animado, tendo no entanto terminado os 90 minutos regulamentares com o empate a zero bolas. O resultado final ditaria a vitória ao clube sadino que derrotaria o Sporting por 3 a 2, graças à excelente exibição do seu guarda-redes Eduardo, considerado o herói do jogo, permitindo assim ao Vitória de Setúbal sagrar-se campeão, nesta que foi a primeira edição da Taça da Liga Portuguesa de Futebol.
Os setubalenses rejubilaram e o VIII Exército organizou uma festa para comemorar a efeméride e homenagear os seus heróis. Não só a equipa de futebol como o seu treinador, Carlos Carvalhal, e os corpos dirigentes do clube.
Os adeptos do “Enorme” fizeram questão de pagar o seu ingresso no barco, oferecendo-se para liquidar a despesa da equipa e seus dirigentes, como forma de demonstrar a sua gratidão pelo feito desportivo conseguido.
 Perto das 18 horas junto ao jardim da Beira-Mar onde o “EVORA” se encontrava acostado embarcaram cerca de duas centenas de bem-dispostos adeptos e equipa desportiva para um passeio de convívio que viria a terminar já perto da meia-noite.
Na popa do EVORA uma enorme bandeira do V.F.C. flutuava ao vento, e em duas grandes tarjas podia ler-se: “OBRIGADO” e “VIII EXERCITO” enquanto a aparelhagem sonora difundia as alegres e conhecidas músicas dedicadas ao Vitória de Setúbal.
Todos a bordo e o barco partiu na direção do sol poente deslizando calma e serenamente até à zona onde o rio se junta com o Oceano Atlântico. Aí chegado, os passageiros acenaram para terra, saudando os doentes, internados no Hospital Ortopédico do Outão, no que foram retribuídos por algumas pessoas que se encontravam nas varandas, daquele antigo forte.
 Um pouco mais à frente, com a Praia da Figueirinha à vista, o barco voltaria para nascente, subindo o Sado, passando junto a Troia para ir fundear perto da Ponta do Verde. E foi nesse local abrigado e de calmaria que os simpáticos golfinhos se vieram juntar à festa saltando de alegria nas águas do seu Sado, como que se também eles estivessem a dançar à volta do seu amigo “EVORA”.
A bordo o convívio prosseguia com os passageiros a degustarem um variado conjunto de iguarias. Umas previamente preparadas e outras feitas ao momento, na cozinha do próprio barco. Vários passageiros dançavam ao som das músicas que alguns artistas convidados cantavam e tocavam nas suas três violas, bombo e cana tremedeira.
Quase todos os membros da claque envergavam camisolas do clube do seu coração ou usavam cachecóis com o símbolo do Vitória, dando assim um ar ainda mais desportivo a este salutar convívio.
Aproveitando a oportunidade alguns adeptos pediam autógrafos aos jogadores que com eles partilhavam do convívio a bordo, onde a cor verde e branco dominavam.

O dia chegava ao fim, o “EVORA” retornava ao seu local para atracar ao batelão junto ao Jardim da Beira-Mar depois de mais uma viagem por uma das mais belas baías do mundo, desta vez ao serviço de uma camada da população adepta do desporto-rei e que comemorava um marco histórico na vida do seu clube, aquele a que os seus adeptos gostam de designar pelo ENORME Vitória Futebol Clube.
Rui Canas Gaspar


Um bonito barco navega nas águas do Sado frente à
Serra da Arrábida…
- Quanto ao EVORA, trata-se de um barco histórico construído em 1931 nos estaleiros de Kiel, na Alemanha, com chapas metálicas recicladas de tanques de guerra utilizados na Primeira Grande Guerra Mundial.

- O barco foi adquirido pela CP para fazer as carreiras fluviais no Tejo, entre o Barreiro e o Terreiro do Paço, em Lisboa. Ao longo de muitos anos transportou milhares e milhares de pessoas que atravessavam diariamente aquele rio para se deslocarem para os seus locais de trabalho.

- O EVORA depois de ter sido posto de parte pela CP acabaria por ser adquirido por um particular e reconvertido para barco de cruzeiros fluviais. O seu novo dono, anos mais tarde, venderia também a embarcação.

- Os seus atuais proprietários procederam ao melhoramento do seu aspeto, tendo mandado executar elegantes pinturas interiores, levadas a efeito por um conceituado artista plástico, Salvador Correia de Sá, o que faz deste charmoso barco um local de eleição para apresentação de produtos regionais, nomeadamente dos reconhecidos vinhos de craveira mundial da Região de Setúbal.

- Não foi por acaso que no verão passado, em 2011, vimos o EVORA a navegar no Sado, ao final da tarde, de todas as sextas-feiras. Este cruzeiro fluvial era animado com música a bordo, tratava-se de um passeio semanal onde foram apresentados os melhores vinhos da nossa Região para degustação. Uma iniciativa patrocinada pela Rota dos Vinhos da Península de Setúbal, cujas provas foram apreciadas por credenciados enólogos.

- O interesse das adegas, dos enólogos e dos visitantes foi tão grande que os proprietários do barco decidiram transformar o porão num espaço próprio onde estagiam, balançadas pelas ondas, durante alguns meses, dezenas de barricas, de três tipos de moscatel roxo, oriundos de outras tantas diferentes adegas da península de Setúbal.

- Mas que informação tão completa… - e como é que tu sabes tudo isto, Gaivota do Sado? - Quis saber o Falcão Forreta.

- Então eu não vos disse que já viajei a bordo daquele barco? Mas além disso também sou amigo do filho do simpático mestre que vai ao leme e conversei muito com ele quando fui fazer a atividade escolar. Tudo o que eu não sabia perguntei, e ele explicou-me. Portanto se quiserem saber mais, façam como eu, quando não souberem perguntem!



Excerto do livro Arrábida Desconhecida de Rui Canas Gaspar






Uma peça histórica
Em clima de festa, os estaleiros alemães de Kiel lançavam à água o Barco EVORA no ano de 1931. Este era o mais moderno barco do seu género, encomendado pela CP para fazer o transporte de passageiros entre o Barreiro e Lisboa.

Em 1975 o barco deixa de ser utilizado no transporte fluvial pela CP e encosta a um cais da CP no Barreiro.

Um industrial com instalações na margem sul acaba por o adquirir tendo como objetivo reconverte-lo para barco turistico, o que não se veio a acontecer, ficando a deteriorar-se junto a um cais no Montijo.

O “EVORA” salva-se de uma morte quase certa graças à sua  aquisição pela CATAMAR, empresa de Setúbal,  que o adquirem à TERTEJO  e o reparam convenientemente, iniciando a atividade marítimo/turística inicialmente no Rio Sado e posteriormente no Tejo.

E foi com esta mesma finalidade que o barco volta de novo a mudar de dono, em 2004, passando para a TURISBUILDING, S.A. uma empresa portuguesa, sedeada em Setúbal que procedeu a diversos melhoramentos, bem como a nova decoração interior e lhe deu nova vida igualmente nos rios Sado eTejo.

Muito do material decorativo e  acessórios originais do “EVORA” perderam-se ao longo dos anos. Porém fomos encontrar o emblema da CP que o charmoso barco usava, colocado na sua chaminé, brilhando ao sol.

Trata-se de uma peça feita em latão, com cerca de um metro que hoje se encontra na posse de um particular, antigo proprietário deste barco.

Se souber de algumas estórias direta ou indiretamente ligadas com este emblemático barco não deixe de partilhar.



Gazeta dos Caminhos de Ferro nº 1060 de 16 de agosto de 1932




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